Aprendi a apreciar Saramago em uma das muitas leituras selecionadas por Sissa Jacoby (dr. em Letras na PUCRS) em uma disciplina de Teoria Literária. Já no princípio foi doloroso 'engolir' Saramago pelo simples fato de eu, há algum tempo, ter tido a experiência de ler pela primeira vez uma obra sua que, por sinal, tem uma complexidade exaustiva: O Envagelho Segundo Jesus Cristo. O estranhamento logo em sua estrutura deixou-me perplexo e meus olhos com uma enorme dificuldade de chegar até seu fim. Anos depois, deparei com sua obra, desta vez, meu olhar acadêmico fez com que toda aquela dificuldade em aceitar o escritor fossem por água abaixo. Foi, então, que tive a felicidade de ler As Intermitências da Morte e pude perceber o quão incompreensível eu estava sendo ao abortar a ideia de gostar de Saramago. Daquele momento em diante vieram Ensaio Sobre a Cegueira (que mais tarde viraria uma belíssima adaptação para o cinema), Jangada de Pedra, Ensaio Sobre a Lucidez, Terra do Pecado, O Homem Duplicado, Todos os Nomes (o melhor e mais complexo, na minha opinião), O Envangelho Segundo Jesus Cristo (desta vez com outro olhar) e Caim (um soco no estômago).
Com um legado de obras e diversas polêmicas em sua vida (principalmente a respeito dos judeus e dos católicos) Saramago, recriou em uma liguagem totalmente contemporânea, uma forma de escrita tida como desvanecida. O reconhecimento disso tudo deu-se ao receber, em 1998, o Prêmio Nobel de Literatura e o Prêmio Camões - a mais importante condecoração da língua portuguesa.
Sua postura socialista, fez dele um grande crítico, expondo injustiças e se pronunciando sobre conflitos políticos de sua época.
Abaixo, um trecho de uma de suas maiores obras:
"Quando acabei de falar, ela perguntou-me, E agora, que pensa fazer, Nada, disse eu, Vai voltar àquelas suas coleções de pessoas famosas, Não sei, talvez, em alguma coisa haverei de ocupar o meu tempo, calei-me um pouco a pensar e respondi, Não, não creio, Porquê, Reparando bem, a vida delas é sempre igual, nunca varia, aparecem, falam, mostram-se, sorriem para os fotógrafos, estão constantemente a chegar ou a partir(...)". [Todos os Nomes(1997)]
Thiago Nascimento
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